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CASCAIS E O NASCIMENTO DO TURISMO E DO DESPORTO EM PORTUGAL


Face à escassez de alojamentos dotados das condições exigidas pelos vilegiaturistas, assistiu-se à edificação de novas habitações, que se transformaram em imagens de marca do concelho, impondo-se, então, a chamada arquitetura de veraneio, que Raquel Henriques da Silva descreve como «as casas, quase sempre moradias unifamiliares, que foram construídas para uso estival, embora desde sempre algumas delas fossem ocupadas durante todo o ano». Entre os seus primeiros e mais emblemáticos exemplares destacam-se a casa dos Duques de Palmela, projetada em 1871, e a dos Duques de Loulé, que em 1873 já se encontrava concluída, cujas opções construtivas e decorativas permitem distingui-las das habitações da cidade.

Também a Câmara Municipal procurou conquistar novos espaços públicos, como a Parada, onde se instalaria, a 15 de outubro de 1879, o Sporting Club de Cascais, que recebeu, de imediato, a alta sociedade a banhos, apesar de, desde 1872, o Casino da Praia, junto à foz da Ribeira das Vinhas, ter funcionado como centro de reunião da colónia balnear.

Os hotéis em funcionamento não passavam de hospedarias de classe superior, encontrando-se referência a várias unidades. Desta forma, para além do reputado Hotel Lisbonense, também conhecido por Hotel Neto, encontramos notícias acerca do Hotel União, em 1880; do Hotel Central, em 1886; e do Hotel do Globo, em 1888. Alguns destes estabelecimentos eram, contudo, decerto mais antigos, pois já em 1876 Ramalho Ortigão se referira à existência de três hotéis na vila, que paulatinamente se transformou em referência obrigatória dos guias de viagem.

A presença sazonal da Corte na vila permitiu que Cascais se pudesse associar à divulgação de inovações tecnológicas, como sucedeu aquando da primeira experiência de iluminação elétrica em Portugal, realizada na Cidadela em 1878, por ocasião do aniversário de D. Carlos. Serviu igualmente de mote aos primeiros filmes nacionais, como é o caso de A Boca do Inferno em Cascais, de 1896, da autoria de R. Henry Short.

A vila transformou-se também na capital do lazer, no período do ano consagrado aos banhos de mar, assumindo protagonismo inusitado ao nível da introdução e promoção do desporto, em modalidades como a vela, o remo, a natação, o ténis ou o futebol. A notícia mais antiga que se conhece a propósito da realização de uma regata de vela na baía de Cascais remonta a 1871. No ano seguinte já o Diário de Notícias anotava que «a muralha que corre desde a fortaleza até à praia [da Ribeira], mas sobretudo esta, estavam cobertas de espetadores de todas as condições, que se mexiam, agitavam e moviam, ávidos por saber a quem coube o vencimento; era surpreendente o efeito dessas ondas humanas que, à semelhança das naturais, tão próximas se formavam e descompunham como elas».

Cascais destacar-se-ia igualmente ao nível do ténis, que parece ter sido praticado pela primeira vez em Portugal por nacionais nos campos do Sporting Club, no ano de 1882. Desde então, pelo entusiasmo de D. Carlos e a incansável atividade de Guilherme Pinto Basto, o primeiro campeão da modalidade, com múltiplas vitórias nos torneios organizados no clube, a Parada afirmou-se como a principal difusora deste desporto no nosso país, à semelhança do que sucederia com o futebol, visto que o primeiro desafio público entre portugueses também aí teve lugar, em outubro de 1888.

Cascais, turismo e desporto
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