A IMPLANTAÇÃO DA REPÚBLICA
A 5 de outubro de 1910, quando o iate Amélia levantou ferro da enseada de Cascais para conduzir o Infante D. Afonso até à Ericeira, onde a família real embarcaria com destino ao exílio, já a bandeira verde e rubra da República, que acabara de se implantar, estava pronta para ser içada na Cidadela, pela mão de D. Fernando Castelo Branco, que após esse ato resignou ao cargo de Administrador do Concelho. Seria sucedido por João José Dinis, destacado líder republicano local, que se deslocou até à vila, a fim de proclamar o novo regime à janela dos Paços do Concelho, designando como seu secretário o carbonário e republicano Emídio Francisco de Almeida, que já desempenhava as mesmas funções na Comissão Municipal Republicana, fundada na Parede, em 1908.
As novas da revolução em Cascais traduzem a forma como se processou a transição aguardada, ainda que agendada sine die, como o atesta a notícia editada a 17 de outubro no semanário republicano A Voz do Povo, em que se anota: «Na noite de segunda para terça-feira [de 3 para 4 de outubro de 1910] concentraram-se os populares revoltosos em Carcavelos esperando a hora de entrarem em serviço revolucionário. À uma hora da madrugada tomaram o cabo submarino e cortaram as comunicações terrestres. Na quarta-feira de manhã [dia 5], a notícia da vitória foi ali recebida e em todas as povoações das nove às dez horas da manhã. Houve muitas manifestações em todas as localidades, tendo-se queimado 50 dúzias de foguetes».
Introduzir-se-iam, desde logo, mudanças ao nível toponímico, eliminando-se os nomes associados ao antigo regime e homenageando-se o 5 de outubro, a República, a Revolução ou o 31 de Janeiro (de 1891) e ainda republicanos ilustres, como Cândido dos Reis, Miguel Bombarda, Heliodoro Salgado ou José Elias Garcia, que disputaram os nomes das avenidas, ruas, passeios e esplanadas do concelho. A I República manter-se-ia-se até 1926, num clima de instabilidade política que se traduziu em governos efémeros e na incapacidade de executar a maioria das reformas de fundo a que se propusera, acelerado pelo fracionamento do Partido Republicano Português. Não obstante, Cascais soube conservar o seu estatuto enquanto rainha das praias portuguesas, mantido pela facilidade de acesso propiciado pelo caminho-de-ferro, que se impusera como o mais poderoso instrumento de desenvolvimento do concelho.
Temendo a eventual perda das colónias, o novo regime anteviu na I Guerra Mundial a possibilidade de, em nome dos interesses nacionais, garantir o seu reconhecimento de facto, pelo que Portugal ingressou oficialmente no conflito internacional em 1916. No ano seguinte já desembarcavam em França os primeiros contingentes do Corpo Expedicionário Português, entre os quais se encontravam alguns soldados nascidos em Cascais. O esforço de guerra esteve igualmente na origem de uma dramática escassez de géneros, de que o concelho se ressentiu, num período marcado pela apresentação e lançamento do seu mais emblemático projeto turístico.