Início / Noticias / Cascais, porto de abrigo numa Europa em guerra

Cascais, porto de abrigo numa Europa em guerra

20 Jan 2021
Durante a Segunda Guerra Mundial, Cascais foi palco de manobras e intrigas que influenciaram o decurso do conflito.

As progressivas alterações políticas, ocorridas na Europa a partir da década de 30, trouxeram a Portugal uma vaga crescente de migrantes em fuga dos países de origem. O concelho de Cascais tornar-se-ia numa região apelativa para muitos refugiados, facto que conduziu a uma ocupação massiva dos seus equipamentos hoteleiros e de lazer

Nos átrios e nos salões do hotel Palácio ou Atlântico, nas salas do casino ou nas esplanadas do Tamariz cruzar-se-iam atores, escritores, espiões, diplomatas e figuras eminentes dos regimes em conflito. Os registos de hóspedes de alguns hotéis e pensões dão conta da passagem de importantes figuras, como os Duques de Windsor, os espiões Dusko Popov e Juan Pujol, os atores Leslie Howard e Orson Welles, o músico Vinícius de Moraes e os escritores Antoine de Saint Exupery e Ian Fleming.

Consta que James Bond nasceu no Estoril. Em 1941, Ian Fleming, agente especial ao serviço do Reino Unido e hóspede do Hotel Palácio, no Estoril, ter-se-à inspirado num agente triplo, o jugoslavo Dusko Popov que trabalhava para MI-5, MI-6, o Abwher e para o FBI, para criar a mitica figura do 007 - Ver a história no episódio 3 das PEGADAS DE CASCAIS.  

Consulte os boletins de alojamento de hotéis, pensões e casas particulares no Arquivo Histórico Digital de Cascais.

A concessão de vistos a estrangeiros passou a ser da responsabilidade da PVDE, revogando a possibilidade de os cônsules poderem conceder aqueles documentos sem autorização prévia. A polícia política tinha também a competência de acompanhar a entrada e permanência dos estrangeiros em Portugal.

Dada a dimensão das operações de vigilância, a PVDE contou com a cooperação das autarquias e dos comissariados de polícia. Seriam adotadas várias formas de controlo da movimentação de estrangeiros, sendo que a mais comum consistia na obrigatoriedade de notificar a polícia política da receção destes hóspedes por parte dos proprietários de hotéis, pensões e casas particulares. Para tal, era utilizado um impresso que apresentava, de um lado, o Boletim de Alojamento de Estrangeiros e, do outro, o denominado Boletim Individual. O formulário era preenchido pelo estabelecimento hoteleiro ou alojamento particular a partir dos documentos de identificação dos hóspedes. Muitos dos boletins preenchidos pelos serviços de alojamento de Cascais encontram-se preservados no Arquivo Histórico Municipal, onde podem ser consultados.

Ainda que a maior parte dos hóspedes se tenha mantido no anonimato e procurava, acima de tudo, um local seguro antes de partir para outros destinos, algumas personagens chegavam com outros propósitos, movidos pelas teias da guerra, pelas oportunidades de negócio, por interesses pessoais e até espionagem.  

Pode explorar estes e muitos outros temas nos Recursos Educativos disponibilizados pelo Arquivo Histórico Digital aqui

Conteúdos Associados

+ Sobre cascais