Início / 8 | A Casa Saloio (Casal Saloio de Outeiro de Polima)
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8 | A Casa Saloio (Casal Saloio de Outeiro de Polima)

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A casa saloia integra-se no tipo de casa tradicional do sul do paı́s, possuindo, no entanto, elementos que a distinguem no contexto estremenho.

Em várias localidades ainda se consegue preservar a imagem deste passado, com casas populares ou vernaculares, aninhadas numa malha urbana estreita, como é o caso de Manique de Baixo, cuja estrada principal assegurava a ligação às aldeias de Tires, Bicesse, Alcoitão e Trajouce.

Estas casas são solidamente erguidas em alvenaria de pedra com argamassa de cal e saibro, quase sempre caiadas num branco alvo e pontuadas nos cunhais, socos e vãos com barras de cor azul, amarela, vermelho (sangue-de-boi) ou mesmo cinza.  Térreas ou com dois pisos, conforme a dimensão do agregado familiar, apresentam uma volumetria simples e cúbica (paralelepípedos únicos ou associados), sendo rematadas por telhados mouriscos, de duas ou quatro águas, de duplo beiral e telhas de meia cana cuidadosamente argamassadas. No interior raras vezes se encontra forro, observando-se o travejamento da cobertura da telha mourisca, feito à base de troncos e ripas de madeira.

A cozinha com forno é o espaço mais importante da casa saloia. A planta do forno, sempre circular, conta com revestimento interno em abóboda de tijolo ou de pedra, consolidada com barro e pequenos fragmentos de telha à mistura. Construídos na parede exterior da casa a que são adossados, com boca para a cozinha, os fornos mais antigos apresentam uma configuração exterior de meio cı́rculo, enquanto os mais modernos têm uma planta quadrangular delimitada por alvenaria de pedra ou tijolo.

As chaminés mais antigas são retangulares e de grandes dimensões, para fazerem uma tiragem rápida dos fumos provenientes da lenha utilizada no aquecimento do forno. Contam com um topo mais estreito que a base, dotado de cobertura em laje de calcário rústico ou telha, para evitar a entrada da chuva. Nas chaminés das casas "mais ricas" encontram-se os poucos ornatos de construção, como a moldura com a data de edificação ou pequenos desenhos geométricos incisos ou relevados no reboco.

A fachada principal está normalmente virada a sul e é pontuada por vãos pequenos envolvidos por cantarias de calcário. A porta de entrada, normalmente com um pequeno postigo, é pintada e possui somente uma fechadura. No interior, o postigo tem portada e, por vezes, na parede do vão, de cada um dos lados, existe um orifício para a tranca, feita de um tronco aparado, que se replica nas janelas.

As janelas, com vão definido por cantarias, são normalmente de uma folha e possuem portadas. Por vezes, contam no interior com pequenos bancos laterais de pedra, conhecidos por namoradeiras. À semelhança das portas, são pintadas de cores mate que oscilam entre o verde, vermelho ou cinza.

A entrada pode ser sombreada por uma latada e dispor de um pequeno lajedo ou calçada com pedra miúda. O chão do piso térreo é de terra batida ou de lajes de pedra, enquanto no piso superior encontramos soalho suportado por troncos não aparelhados.

A casa possui pouco mobiliário. Na cozinha e casa de entrada destacam-se a mesa, a cadeira, o banco e eventualmente um pequeno armário de parede para as loiças de barro, alumínio ou esmalte. Já o quarto é marcado pela cama com ou sem cabeceira e um lavatório (bacia e balde montados sobre estrutura metálica) e por vezes alindado com linhos do enxoval. A decoração faz-se com cortinas e folhos em chitas, pequenos enfeites em papel de seda garrido, lembranças de feiras e mercados e pagelas de romaria dos santos da devoção. A partir de velhos tecidos produzem-se pequenos tapetes ou mantas de retalhos que enfeitavam as camas, a que se seguiriam, mais tarde, oleados coloridos, que são aplicados nos bancos ou nas mesas.

No exterior das casas ficam as dependências agrícolas: arribanas para os gados, palheiros e arrumos de alfaias, capoeiras para a criação e mais raramente lagares para vinho. Na maior parte dos casos, a casa define um pátio com o todo das dependências anexas virado para dentro, onde decorre a vida doméstica e se acede à horta, espaço de eleição do saloio, que também tem acesso a partir do caminho público, para transporte das alfaias e circulação de veículos de apoio. Os pátios ou logradouros destas habitações saloias são delimitados por muros de alvenaria de pedra seca ou com simples laivos de cal e saibro, com cancela fechada, portão ou, nos casos das propriedades de maior dimensão e mais abastadas, com portal.

 

A casa de um só piso

A casa de um só piso é a mais simples e modesta das habitações estremenhas, estando inicialmente vocacionada para albergar as classes sociais com menos posses. Apresenta planta retangular, com poucas ou nenhumas janelas para a rua e o telhado, de beirado singelo, habitualmente de duas águas. O forno, situado na cozinha e saliente ao alinhamento da planta, localiza-se quase sempre nas traseiras do edifı́cio com chaminé.

Na conceção do espaço interior existe uma íntima ligação entre a área habitada e as arribanas, sem corredores entre os diversos compartimentos. O piso, tendencialmente em terra batida, é forrado por juncos. Algumas destas casas foram sendo ampliadas, pelo que perderam a tradicional planta alongada.

 

Casa torreada

Um outro modelo, de influência muçulmana e talvez o mais conhecido e antigo, é a casa torreada, cujo aspeto se deve ao corpo de planta quadrada, de dois pisos, com telhado de quatro águas.

A casa torreada possui um quarto no piso superior que ocupa a totalidade da sua área, onde por vezes as janelas são ladeadas por bancos de pedra, conhecidos por namoradeiras. No piso térreo da torre encontra-se o armazém de mantimentos que serve também de sala de entrada, ligada à cozinha com forno, que se situa num corpo anexo, de um único piso, geralmente com cobertura de duas águas.
Apresenta quase sempre no piso térreo uma porta de entrada, sendo o acesso ao piso superior efetuado através de escada interior em madeira com guardas. No entanto, alguns exemplares possuem escada exterior em pedra.

 

Casa de dois pisos

O último modelo é a casa de dois pisos, de forma alongada, com telhados de quatro águas. As casas de dois pisos corridos possuem a área de habitação no piso superior e, por vezes, para além da cozinha no piso térreo, contam com dependências agríolas, como armazéns, lagares e adegas. O número de vãos varia em função do número de compartimentos, podendo a cozinha funcionar no edifício principal ou num anexo térreo. Este modelo implanta-se, por vezes, em desnı́vel, ficando um dos lados apenas com o piso superior à vista. Para além da escada interna em madeira pode apresentar escada exterior e
alpendre.

A tipologia da casa de dois pisos é aquela que ao longo dos tempos mais se afastou do contexto rural para um meio mais urbano, como sucede em Caparide, Manique de Baixo ou S. Domingos de Rana, onde subsistem alguns exemplares.

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