Início / 2 | Agricultura (Casal Saloio de Outeiro de Polima)
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A agricultura constituiu, durante séculos, a principal atividade dos habitantes do concelho, ainda que pareça ter-se ressentido de algum atraso na adoção de novas técnicas e da tendência para o excessivo emparcelamento das terras de cultivo.

De natureza geológica diversa, os terrenos geravam searas consideráveis, «como prova o facto de eles produzirem razoavelmente, mal trabalhados, com um arado rudimentar e sem estrumes ou quase, logo que o ano corra favorável, isto é, logo que não escasseie muito a humidade».

A atividade revelava-se, pois, de baixo rendimento e tecnologicamente deficitária, pelo que a produção não supria sequer as necessidades de consumo internas.

Na realidade, nem mesmo a lavra do trigo, a mais relevante do concelho, parecia satisfazer a procura, o mesmo sucedendo com a da cevada, de produção menos significativa, cultivada em terrenos de qualidade inferior, para ração. Também o milho era considerado secundário, à semelhança de outras culturas tradicionais, casos da aveia e do centeio.

 

Os saloios e o amanho da terra

A atividade agrícola associa-se à figura do saloio, camponês que arreigado à terra há gerações se encontrava no termo de Lisboa aquando da sua conquista por D. Afonso Henriques e que desenvolveria uma cultura própria, traduzida nos seus costumes, crenças, linguagem e vestuário.

Foi, assim, o herdeiro da tradição árabe do amanho da terra, cultivando cereais, como o milho, o trigo e a cevada, mas também
a vinha, o olival, árvores de fruto e produtos hortícolas.

As terras de "pão" distribuíam-se normalmente pelas zonas mais altas do território do concelho, onde os proprietários de pequenas parcelas tendiam a unir-se de forma a alcançar uma maior produção e rentabilidade.

Já na encosta se plantava a vinha e junto às ribeiras as hortas, a que os árabes chamavam almuinhas, ainda hoje evocadas pelo topónimo Almuinhas Velhas, na Malveira da Serra.

O cultivo dos cereais, nomeadamente do trigo, implicava um longo ciclo de trabalho que começava pelo "encamalhoar", o sulcar de um rego pela charrua para marcação do terreno, a que se seguia a abertura das leiras com o arado, o "lambechar", para endireitar a terra com a grade e, por fim, a sementeira, por alturas de dezembro. Finda esta tarefa havia que "derregar", usando um sacho para cobrir a semente.

Seguia-se a monda, para eliminar as ervas e garantir o crescimento do cereal. De junho ao início de julho decorria a ceifa, a que se sucedia a debulha, que até à introdução da mecanização se realizava na eira.

«Há que separar o trigo do joio»
O joio é uma planta nociva que se desenvolve com frequência nas searas, prejudicando o seu desenvolvimento. Cedo esta expressão do mundo rural passou a ser utilizada noutras situações, em que é necessário separar o que é mau do que é bom!

Terminada a debulha havia que espalhar o cereal na eira e separar palhas e ciscos. Através de processos tradicionais, elementares as palhas e grãos eram lançados ao ar, de preferência em dias de vento e só depois ensacados.

«Na casa do Gonçalo manda mais a galinha do que o galo»
A saloia juntava aos trabalhos da lavoura todas as tarefas do lar, como a confeção das refeições, que incluía o fabrico do pão, para além do cultivo da horta, transporte de lenhas e de água ou a educação dos filhos. Assegurava também a gestão dos animais, a venda de produtos agrı́colas e serviços de lavagem de roupa, que completavam o orçamento familiar.

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