Início / 10 | S. Domingos de Rana: Da junta de paróquia à junta de freguesia
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10 | S. Domingos de Rana: Da junta de paróquia à junta de freguesia

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No brasão da freguesia, adornado por um rosário negro, que representa a Ordem Dominicana e consequentemente a Igreja de S. Domingos de Rana, destacam-se duas rãs sobre a Ribeira das Marianas, que traduzem a origem latina do seu nome (Rã = Rana). Representa-se igualmente o sol da região, a sua longa tradição como terra produtora de cereais e ainda o seu passado medieval, revelado pela espada encontrada numa sepultura da Capela de Nossa Senhora da Conceição da Abóboda.

Freguesia e paróquia foram sinónimos até ao século XX. Por não existir uma estrutura civil independente da eclesiástica, o termo freguês – aglutinação da expressão latina fillius eclesiae (filho da igreja) ou de filius gregis (0ilho do rebanho) – serviria para designar os paroquianos, que eram, assim, considerados «fregueses» do pároco.

As Juntas de Paróquia foram instituídas em 1830 para «administrar todos os negócios de interesse puramente local», dispondo de 3, 5 ou 7 membros, conforme o número de habitações que abrangessem, cuja eleição para mandatos bienais cumpria aos «chefes de família, ou cabeças de fogo, domiciliados no distrito da paróquia». Em 1835 seriam identificadas enquanto «corpo administrativo» autónomo da organização eclesiástica, apesar de os limites dos territórios que geriam coincidirem quase sempre com os das antigas paróquias.

Em 1840, a presidência das Juntas de Paróquia foi entregue aos párocos. Ainda que em 1878 se aprovasse a livre escolha do Presidente, a partir de 1895 o cargo voltou a ser da responsabilidade dos párocos, assim se mantendo até à implantação da República. No ano de 1913 criar-se-iam as paróquias civis, com limites territoriais idênticos aos eclesiásticos, que em 1916 passaram a designar-se freguesias. Desde então, a Junta de Paróquia deu lugar à Junta de Freguesia, fixando-se definitivamente a diferença entre as estruturas civil e eclesiástica.

O território da atual freguesia de S. Domingos de Rana foi integrado no termo de Cascais por D. Fernando I, a 8 de abril de 1370. Contudo, quando por alvará de 11 de agosto de 1759 se fundou a vila de Carcavelos, agregando parte do concelho de Cascais ao «reguengo de a par de Oeiras», já conhecido por Bucicos, a paróquia perderia os lugares de Arneiro, Rebelva, Sassoeiros, S. Domingos de Rana e Torre da Aguilha. Por alvará de 9 de abril de 1764 esta área da freguesia seria anexada ao concelho de Oeiras, onde se manteve até 6 de novembro de 1836, quando foi reincorporada no concelho de Cascais.

No ano de 1953 a já então freguesia de S. Domingos de Rana perderia definitivamente para a freguesia de Carcavelos o Arneiro, a Rebelva e Sassoeiros, sacrificando ainda parte substancial do seu território para a constituição da freguesia da Parede.

A toponímia reflete a história da freguesia. Todavia, a razão dos nomes dos seus lugares, atribuídos pelos primeiros habitantes, perde-se nos tempos. Eis as hipóteses conhecidas:

Abóboda - Fonte coberta ou arcada
Arneiro - Terra arenosa, deserta ou desabrigada
Caparide - Habitante de Caparra, cidade romana da provı́ncia de Cáceres
Casal do Clérigo - Nome de um proprietário ou antigo ermitério
Cassanito - Pequeno foro
Conceição da Abóboda - Orago da capela da localidade
Freiria - Dos freires ou freiras (propriedade na dependência de mosteiro)
Madorna - Nome de origem desconhecido
Matarraque - Nome de origem desconhecido
Matos-Cheirinhos – Chãozinhos ou matos densos ou com bom cheiro
Outeiro de Polima - Pequena elevação de terreno
Penedo - Pedra ou rocha grande
Polima - Polímnia, planta herbácea ou feminino do nome Polimno
Quenena - Canavial ou quena (flauta)
Rana - Rã
S. Domingos de Rana - Orago da igreja da localidade
Talaíde – Atalaia (torre de vigia) ou terra de Talaus (nome masculino de origem pré-romana) ou espiga de milho painço, em árabe
Tires - Tiras de terreno
Torre da Aguilha - Torre da águia ou colheita abundante de cereais
Trajouce – Nome de origem desconhecida
Zambujal – Mata de zambujeiros, espécie de oliveira brava

 

Quase 7 séculos de história

1370
Integração do território da atual freguesia de S. Domingos de Rana no termo de Cascais, que o Rei D. Pedro I doou a Gomes Lourenço do Avelar.

1445
S. Domingos de Rana participou no Giro de Nossa Senhora do Cabo Espichel, o que atesta a antiguidade da paróquia.

1527
As localidades atualmente integradas na freguesia, que são identi0icadas como aldeias, contavam o seguinte número de habitações: Caparide, «com a Ribeira de Caparide e seus casais» (26); Rana, «com os casais da Parede e Rebelva» (13); Abóboda, «com Trajouce» (11); Polima, «com o Outeiro e Freiria» (10); Tires (10); Sassoeiros, «com o Arneiro» (9) e Zambujal (6).

1579
A Capela de Nossa Senhora da Conceição da Abó boda, fundada em data desconhecida por Frei Gonçalo de Azevedo, cavaleiro da Ordem de Malta, ainda hoje exibe a mais bela lápide armoriada do concelho de Cascais, em que está inscrito este ano.

1588
Aprovação do compromisso da irmandade de Nossa Senhora do Rosário da paró quia de S. Domingos de Rana. A fundação da Igreja de S. Domingos de Gusmão deve, contudo, remontar ao inı́cio do século XVI, como o atestam os fechos da abó boda ainda existentes e as tábuas Anunciação e Pentecostes, dos finais de Quinhentos.

1589
O primeiro registo de um batizado na paró quia remonta a 30 de julho. Tomé receberia, então, o nome do celebrante, o Padre Tomé Nunes.

1710
Início da construção da nova Igreja de S. Domingos de Rana, que parece ter sido concluída em 1838, data inscrita no relógio de sol da sua torre sineira. O templo original, considerado acanhado, encontrava-se em mau estado de conservação.

1755
A paróquia foi afetada por um terramoto, que fez ruir parcialmente a Igreja de S. Domingos de Rana.

1758
O Cura Joaquim Coelho da Silva regista que a paró quia contava com 1 868 habitantes, 520 habitações e 24 lugares: Abóboda, Arneiro, Cai-Água, Caparide, Chaı́nhos, Conceição, Folia, Montijo, Murtal, Outeiro de Polima, Parede, Penedo, Polima, Quenena, Rana, Rebelva, Ribeira de Quenena, Sassoeiros, S. Domingos de Rana, Talaíde, Tires, Torre da Aguilha, Trajouce e Zambujal.

1759
Anexação dos lugares de Arneiro, Rebelva, Sassoeiros, S. Domingos de Rana e Torre da Aguilha à vila de Carcavelos, cujo território viria a ser incorporado no concelho de Oeiras, em 1764.

1788
Notícia do funcionamento de uma fábrica de estamparia de chitas em Tires.

1836
A paróquia de S. Domingos de Rana é transferida do concelho de Oeiras para o de Cascais.

1864
S. Domingos de Rana era a paróquia mais povoada do concelho, por dispor de 2.424 habitantes, que se alojavam em 636 habitações.

1873
A paróquia dispunha de duas escolas. A taxa de analfabetismo no concelho rondava 84,1% e 4,1% dos habitantes apenas sabia ler.

1889
Inauguração do caminho de ferro de Cascais. S. Domingos de Rana era, então, servida pela estação da Parede, que integrava o seu território.

1911
A paróquia contava 4.201 habitantes. As localidades mais relevantes em número de efetivos eram Parede (1 301), Tires (419), Murtal (355), Abóboda (253), Caparide (229), Rebelva (211), Trajouce (211), Sassoeiros (162), Talaíde (160) e S. Domingos de Rana (150).

1913
Nascimento da Paróquia Civil de S. Domingos de Rana, a que se seguiu, em 1916, a Freguesia de S. Domingos de Rana.
Fundação da Troupe União 1.º de Dezembro Caparidense, a mais antiga associação em atividade no atual território da freguesia.

1914
A fundação da (extinta) Associação de Classe dos Operários da Construção Civil e Artes Correlativas de Tires e Arredores atestava a relevância da atividade dos canteiros da paróquia.

1915
A paróquia de S. Domingos de Rana cede território para a constituição da paróquia do Estoril.

1919
Fundação do Grupo de Bandolinistas 1.º de Maio da Solidariedade da Construção Civil de Tires, atual Grupo Recreativo e Dramático 1.º de Maio de Tires, a segunda mais antiga associação em atividade no atual território da freguesia.

1922
Inauguração da Ponte das Varandas, de acesso a Talaíde, destinada a servir «uma região produtiva e muito rica, que muita utilidade trará à economia do concelho».

1928
Inauguração do chafariz de Caparide e em Freiria.

1930
A freguesia contava 6.587 habitantes.

1934
A Empresa de Auto-Cars de Algés e Trajouce, Ld.ª anunciou carreiras de autocarros do Cacém a Algés, com paragem em Trajouce, Abóboda e S. Domingos de Rana.

1944
Inauguração do chafariz, depósito de água e lavadouro de Trajouce.

1948
O Dicionário Corográfico de Portugal descreve da seguinte forma a freguesia de S. Domingos de Rana: «Como todas as terras saloias, nem uma nota de pobreza, de fealdade, de nó doa. Também nem sombra de grandeza ou de fidalga prosápia. Casas garridas, alegres, ao longo da estrada, florida como jardim. Região privilegiada em frutas e hortaliças, cultivadas em hortas primorosamente tratadas, tem vinho de nome, como a vizinha freguesia de Carcavelos».

1952
Entrada em funcionamento do Instituto Superior Missionário do Espı́rito Santo na Quinta da Torre da Aguilha, que fora adquirida em 1948.

1953
A freguesia perdeu parte substancial do seu território para a constituição da freguesia da Parede e os lugares de Arneiro, Rebelva e Sassoeiros para a freguesia de Carcavelos.
Entrada em funcionamento da Biblioteca Itinerante, iniciativa gizada por Branquinho da Fonseca, em prol da promoção do livro e da leitura pela Câmara Municipal de Cascais. Os lugares de Abóboda, Caparide, S. Domingos de Rana, Tires e Trajouce seriam integrados no percurso.

1954
Inauguração da iluminação elétrica em Manique, Tires, S. Domingos de Rana e Zambujal, a que seguiriam, em 1955, Abóboda e Trajouce.

1956
Inauguração da nova sede da Junta de Freguesia de S. Domingos de Rana.

1959
Inauguração do abastecimento público de água em Polima.

1960
A freguesia contava 8.323 habitantes, 156 dos quais em Outeiro de Polima. A forte redução do número de efetivos deveu-se à perda de território para as freguesias de Carcavelos e Parede, em 1953.

1964
Inauguração do Aeródromo de Tires. A pista, que era então de 600 metros, conta atualmente com 1.700 metros.

1964
Inauguração da iluminação elétrica em Conceição da Abóboda, Outeiro de Polima e Polima.

1970
A freguesia dispunha de 17.624 habitantes, que em 1981 ascenderiam a 29.342.

1978
Em entrevista ao Jornal da Costa do Sol, o Presidente da Junta de Freguesia identi0ica os bairros de génese ilegal como o problema mais grave de S. Domingos de Rana.

1985
Início das campanhas arqueológicas na villa romana de Freiria.

1986
A paróquia de S. Domingos de Rana foi segmentada para a fundação da paróquia de Nossa Senhora da Graça de Tires. Já em 2004 nasceria a paróquia de Nossa Senhora da Conceição da Abóboda.

1990
A villa romana de Freiria foi classificada como monumento de interesse público.

1991
Conclusão da autoestrada Lisboa-Cascais, que serve a freguesia de S. Domingos de Rana.

1995
Inauguração do Complexo Desportivo de S. Domingos de Rana, em Massapés.

2001
A freguesia dispunha de 43.991 habitantes, que em 2011 eram já 57.502.

2005
Inauguração do novo recinto para as feiras de levante da freguesia, que passou a acolher as feiras de Tires, S. Domingos de Rana e Madorna.
Inauguração da Biblioteca Municipal de S. Domingos de Rana.

2008
O municı́pio adquiriu o Casal Saloio de Outeiro de Polima, com vista à sua musealização.
Inauguração da nova extensão de Saúde de S. Domingos de Rana que acolheu três Unidades de Saúde Familiar.

2009
Inauguração do Complexo Desportivo Municipal da Abóboda.

2013
Inauguração do Borboletário do Parque Urbano da Quinta de Rana.

2018
Inauguração do projeto de requalificação e musealização da villa romana de Freiria.

2021
A freguesia atingiu 59.248 habitantes.

2023
Inauguração do Centro de Interpretação do Espaço Rural de Cascais, no antigo Casal Saloio de Outeiro de Polima.

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