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Jorge Silva Melo - um legado perene

15 Mar 2022

Jorge Silva Melo
1948 - 2022

O desaparecimento físico de Jorge Silva Melo (1948-2022) não vai fazer desvanecer a sua importância para a vida cultural portuguesa durante os últimos sessenta anos, porque o legado que deixa tem uma dimensão, um peso e uma profundidade únicos. Será muito difícil que se esqueça tudo aquilo que, com grande prodigalidade, nos deu: encenador, realizador cinematográfico, argumentista, actor e muitas outras coisas que lhe permitiram mostrar talento e amor pelas artes, o Jorge foi um caso realmente singular.
Aquilo que aqui me importa referir, esquecendo por agora o tempo que passámos, se bem que em distintos departamentos, na Faculdade de Letras de Lisboa nos anos 60 (referiram-se as notáveis adaptações da obra do Judeu, com Luís Miguel Cintra, Ermelinda Duarte e Eduarda Dionísio) e toda essa excepcional e variada intervenção individual, é a relação que os Artistas Unidos, por sua iniciativa, mantiveram com a Fundação D. Luís I organizando uma série de actividades no âmbito das exposições (Os Quatro: Nikias Skapinakis, Sofia Areal, Jorge Martins e Manuel Casimiro; Ivo; Nikias Skapinakis: Desenho a Preto e Branco e a Cores, Antologia Gráfica) e, a partir de 2018, da leitura de poesia (Em Voz Alta), que prosseguirá e servirá de justa homenagem à sua incontestável paixão pela obra dos grandes poetas de língua portuguesa. Acresce a esta colaboração a compra, por parte da Fundação, da Colecção de Os Livrinhos de Teatro, conjunto de textos que muito enriquece a nossa biblioteca.
E não posso deixar de referir a existência de um aspecto de ordem pessoal que nos aproximou sempre: o meu velho e persistente apreço por Maria Adélia Silva Melo, sua irmã, uma amiga e <<conterrânea>> cujo labor de tradutora (Elfriede Jelinek, Peter Handke, Botho Strauss, Ruth Rendell, Franz Kafka, Joseph Conrad, Odön von Horváth, Karl Valentin, William Shakespeare, Franz Xaver Kroetz, Heiner Müller, Frank Wedekind, Georg Buchner) me serviu sempre de modelo.
Imagino-os agora, lado a lado, num paraíso qualquer de literatos de alma contestatária, a definir quais as obras a traduzir e encenar num etéreo teatro que certamente já criaram para deleite de quem com eles coabite, anjos e demónios.
Salvato Teles de Menezes

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