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Fotografias de Stanley Kubrick nunca publicadas em Cascais

22 Fev 2022
“A fotografia foi certamente o meu primeiro passo rumo ao cinema. Para fazer um filme inteiramente sozinho, o que fiz no início, pode não ter que se saber muito sobre mais nada, mas é preciso saber sobre fotografia”. (Stanley Kubrick)

130 fotografias, muitas delas nunca publicadas, de um dos maiores realizadores da história do cinema, são agora mostradas na exposição "Through a Different Lens – Stanley Kubrick Photographs", patente no Centro Cultural de Cascais entre 26 de fevereiro e 22 de maio de 2022, numa iniciativa da Fundação D. Luís I e da Câmara Municipal de Cascais no âmbito da programação do Bairro dos Museus.

Além de ter construído uma incrível trajetória no cinema, Stanley Kubrick (1928-1999) também foi fotógrafo. Antes de se tornar um dos realizadores mais influentes de sempre com filmes definitivos como "Shining", "Laranja Mecânica" e "2001: Odisseia no Espaço", o realizador trabalhou para a revista Look, uma publicação de Nova Iorque, onde construiu um fascinante portefólio fotográfico.

Kubrick chamou a atenção dos editores da revista ainda muito jovem, aos 17 anos, tornando-se o fotógrafo mais jovem da história da publicação, para a qual contribuiria entre 1945 e 1950. Foi nessa época que o cineasta desenvolveu o seu olhar e técnica que posteriormente o permitiria levar a experiência da fotografia para o cinema. A cinematografia e a luz dos seus filmes, o mistério e o drama das suas histórias, são elementos que começou a explorar durante os anos em que fotografava para a Look.

Durante aqueles anos, Kubrick apontaria as lentes da sua câmara para cenas e personagens da sua cidade natal, Nova Iorque, explorando temáticas que o inspirariam durante toda a sua carreira criativa e transformando-se num observador atento das interações humanas, que contaria histórias através de imagens em sequências narrativas dinâmicas e potentes. Kubrick fez mais de 135 ensaios fotográficos para a Look, enquanto aprimorava as habilidades, relacionamentos e atrevimento criativo que o levariam ao cinema.
"Acho que registar esteticamente uma ação espontânea, ao invés de cuidadosamente encenar uma imagem, é o uso mais válido e expressivo da fotografia", afirmou numa das primeiras entrevistas que concedeu, na edição de outubro de 1948 da extinta revista The Camera.

Com curadoria de Sean Corcoran e Donald Albrecht a partir dos arquivos do Museum of the City of New York, a exposição apresenta 130 fotografias, muitas delas nunca publicadas, e 41 revistas Look. Nestas imagens, Kubrick explorou o glamour e a coragem das pessoas nas ruas, em discotecas e em eventos desportivos, captando a essência de uma cidade em transformação após a Segunda Guerra Mundial, e o sofrimento, a paixão e a intensidade da vida quotidiana, com um olhar sofisticado que contradizia a sua juventude e pouca experiência.

O trabalho do jovem Stanley Kubrick para a Look aguçou o seu fascínio pelas relações humanas. As suas contribuições para a revista variaram entre histórias peculiares sobre Nova Iorque e seus habitantes e perfis de celebridades e atletas, sempre investigando e expandindo as poderosas capacidades narrativas da fotografia e revelando a sua aptidão para traduzir visualmente a complexidade da vida de um indivíduo. Os visitantes poderão ver, por exemplo, fotografias da primeira grande reportagem que realizou para a Look, "Life and Love on the New York Subway", originalmente publicadas em março de 1947.

A sua experiência como fotojornalista também lhe ofereceu a oportunidade de explorar diferentes estilos artísticos e refinar as suas habilidades de enquadramento, composição e iluminação. Kubrick emulou frequentemente a estética dos filmes noir de Hollywood, indo em contracorrente ao naturalismo típico do fotojornalismo da época. Muitas das suas fotografias prenunciam o estilo que ele adotaria nos seus primeiros filmes, como Killer's Kiss e Um Roubo no Hipódromo.

Numa passagem do documentário Kubrick by Kubrick do cineasta Gregory Monro lançado em 2020, o crítico de cinema e autor francês Michel Ciment, um dos poucos a conseguir entrevistar o realizador, afirma que "como todos os grandes cineastas, ele possui o sentido do espaço e o sentido do tempo. Ou seja, é preciso saber compor a imagem – é a arte da fotografia".

"Through a Different Lens – Stanley Kubrick Photographs" revela a visão de um génio criativo em ascensão. Ao ver as fotografias, temos um vislumbre de em quem o jovem fotógrafo eventualmente se tornaria. Kubrick deixou a revista em 1950, aos 22 anos, quando começou a fazer curtas-metragens. Em 1953 realizou a sua primeira longa-metragem, "Medo e Desejo". Com "Spartacus", de 1960, tornou-se uma estrela e um cineasta aclamado pelo público e pela crítica. A este seguiram-se clássicos como "Lolita", de 1962, e "Dr. Estranhoamor", de 1964. O seu último filme, "De Olhos Bem Fechados", de 1999, foi terminado no ano em que faleceu, aos 70 anos.

"A fotografia foi certamente o meu primeiro passo rumo ao cinema. Para fazer um filme inteiramente sozinho, o que fiz no início, pode não ter que se saber muito sobre mais nada, mas é preciso saber sobre fotografia".
(Stanley Kubrick em entrevista a Michel Ciment presente no livro "Kubrick", sobre a obra do cineasta)

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