Deixou "orgulhosos os cascalenses" pelo trabalho "fantástico na sua recuperação", num curto espaço de tempo, disse o presidente da Câmara, Carlos Carreiras, e deixou satisfeito o secretário de Estado da Defesa: "Quando entramos neste edifício ficamos com a sensação de termos tomado as decisões adequadas", disse Marcos Perestrello. E, surpreendeu todos os outros que ali se deslocaram para comemorar o 25 de abril.
A porta do Forte ainda não se abrira e já eram muitos os populares que mostravam admiração pelo estado de conservação em que se apresentava toda a zona verde envolvente. Mas a atenção estava reservada para o interior.
Os comentários manifestavam essa expectativa. Cruzavam-se conversas e as imagens de degradação passadas nos telejornais um mês e meio antes eram tema incontornável nesta espera pela hora da abertura do Forte. E ela lá chegou. De chave em punho, presidente da Câmara de Cascais e secretário de Estado da Defesa abriram a velha porta do Forte e a população não se fez rogada. Entrou sem rodeios, entrou e percorreu cada canto. Sorrisos, trejeitos de espanto e, sobretudo muita curiosidade.
A história do Forte, a mais longínqua e a mais recente exposta numa sala, puxava à curiosidade, mas não satisfazia toda a curiosidade. As pessoas traziam na memória o caótico estado do edifício, procuravam resquícios desse verdadeiro estado de fragilidade da fortaleza e percebia-se o grau de satisfação pela surpresa. O filme que passava ininterruptamente numa das salas e que confrontava o estado de degradação com o estado de recuperação prendia mais a atenção dos visitantes, bem como as fotos que contavam a história deste resgate. E então, era de história que se falava quando a população presente se cruzava nos corredores do forte, nos recantos das salas. A curiosidade inicial ia perdendo força e começara outra.
Talvez a história mais recente da utilização deste edifício, o local de férias do ditador Oliveira Salazar, presidente do Conselho do Estado Novo, ainda estivesse colada às paredes do velho edifício. Sobretudo neste dia 25 de abril que festejava exatamente o fim desse ciclo da história. Encostado a uma das paredes do forte, protegido pela muralha virada para o mar e contemplando o monumento, um dos visitantes, de seu nome Rui Oliveira, dizia-nos: "Sabe! A democracia tem que exorcizar o seu passado e tem que recuperar aquilo que de bom e aquilo que de mau foi feito. Houve muita gente que tombou dentro e fora do regime e a democracia tem de recuperá-los a todos. Nós não devemos ter ressentimentos do nosso passado, devemos ter saudades do nosso futuro."
A cerimónia prosseguia na praça do Forte virada para o mar. O presidente da Câmara de Cascais, primeiro, falava aos presentes manifestando "felicidade por ter sido possível à Câmara Municipal de Cascais dar a conhecer esta joia que estava aqui escondida, que estava a ser vandalizada", e "orgulho, por em tão curto espaço de tempo dar outra vez o esplendor ao Forte de Santo António da Barra, com a participação de muito colegas da Câmara Municipal de Cascais". O autarca acrescentaria que, porque "em democracia não podemos privar os cidadãos e a comunidade da sua história e do seu património, estamos prontos para tomar conta de todo o património que existe no nosso concelho".
Logo de seguida, o secretário de Estado da Defesa pareceu estar de acordo: "Quando entramos neste edifício ficamos com a sensação de termos tomado as decisões adequadas, porque a preservação do património do Estado requer necessariamente o envolvimento das autarquias", disse Marcos Perestrello.
Seguiam-se as velhas canções de abril cantadas pelos populares acompanhando os coros das associações do concelho, mas a surpresa tinha sido forte, nestes 44 anos do 25 de abril em Cascais.