Em comemoração dos 480 anos de amizade entre Portugal e Japão, que se celebram este ano, a Biblioteca Municipal de S. Domingos de Rana inaugurou esta sexta-feira, 13 de outubro, uma mostra bibliográfica em que se apresenta parte da coleção de livros sobre o país do Sol Nascente reunida na primeira metade do século XX pelo bibliófilo minhoto, natural de Ponte da Barca, António Pereira de Vasconcelos da Rocha Lacerda e Melo. A seleção inclui, entre outras, obras do escritor Wenceslau de Moraes e desenhos de Katsushika Hokusai.
Pode ler-se na exposição: "Foi Portugal que na era das Descobertas encontrou os caminhos e as bases do encontro entre as culturas do Ocidente e do Oriente. No Japão foram João Rodrigues e Luís Froes que nesta primeira fase realizaram a obra mais valiosa de exposição e análise do fenómeno desse encontro. Depois, na época do segundo contacto entre o Japão e o Ocidente, foi, no século XIX, Wenceslau de Moraes o ocidental que com mais intimidade conheceu a vida oriental e viveu a vida comum de um país do Oriente." - Armando Martins Janeira, in O Impacte Português sobre a Civilização Japonesa.
Wenceslau de Moraes ocupa um lugar central nesta exposição bibliográfica, que inclui as diversas edições dos seus livros mais importantes, mas também de autores que estudaram a sua obra, como Armando Martins Janeira, nome literário de Virgílio Armando Martins, que foi embaixador no Japão (1964-1971) e grande divulgador do escritor, em Portugal e no Japão, com obras também da sua autoria.
Primeira edição d'O Culto do Chá, de Wenceslau de Moraes, uma das obras em destaque
Wenceslau de Moraes ocupa um lugar singular na literatura portuguesa, reconhecido indiscutivelmente como o escritor que deixou uma obra marcante, toda ela dedicada a descrever o país, as gentes, os costumes, a cultura, a história, a alma do país que amou acima de tudo, o Japão. De entre as suas obras destacam-se Traços do Extremo Oriente, Dai-Nippon, Cartas do Japão, O Culto do Chá, Paisagens da China e do Japão, O Bom-Odori em Tokushima, Fernão Mendes Pinto e o Japão, Relance da História do Japão, Relance da Alma Japonesa, Osoroshi, todas elas presentes na exposição. De um ponto de vista bibliófilo, ocupa lugar muito especial O Culto do Chá, na primeira edição publicada em Kobe, em 1905, em dupla folha, à maneira japonesa.
Armando Martins Janeira (Felgueiras, 1914 – Estoril, 1988) era o nome literário de Virgílio Armando Martins, diplomata de carreira. Esteve colocado no Japão em dois períodos diferentes, primeiro de 1952 a 1955, como primeiro secretário, depois como embaixador, de 1964 a 1971. Além de livros de poemas, contos e ensaios, escreveu numerosos trabalhos sobre o Oriente e, em particular, sobre o Japão e Wenceslau de Moraes, de quem era grande admirador e divulgador da sua obra. Algumas das suas obras integram esta exposição: Nô, Caminhos da Terra Florida, O Jardim do Encanto Perdido e O Impacte Português sobre a Civilização Portuguesa.
Foi sob a sua direção que a obra de Wenceslau de Moraes foi reeditada, em 1973, e em 1993 selecionou os textos para uma Antologia, livros aqui também presentes. Assina o prefácio deste último livro Daniel Pires, também ele divulgador da obra de Moraes, e que é o autor dos textos e responsável pela seleção das imagens do belo livro Wenceslau de Moraes, Permanências e Errâncias no Japão, que reúne mais de quatrocentos postais que o
escritor enviou do Japão para a sua irmã, Francisca.
A arte dos Ukiyo-e no desenho magistral de Katsushika Hokusai
Presente também na exposição estão obras de Katsushika Hokusai (1760-1849) foi um dos artistas mais populares no seu tempo no Japão, mestre na arte dos ukiyo-e, que literalmente significa retratos do mundo flutuante e que consiste num processo de gravação de estampas, que nasceu em meados do século XVII e se tornou extremamente popular nos séculos seguintes. uma vez que podiam ser produzidas em grande número.
A fama dos artistas japoneses chegou à Europa, influenciando pintores como Van Gogh, colecionador de estampas japonesas e que nos deixou quadros nelas inspirados, Monet, Manet e outros.
De entre a sua numerosa produção artística, iniciada muito jovem e que nunca interrompeu até à sua morte, com quase noventa nos, destacam-se a coleção de estampas Trinta e seis Vistas do Monte Fuji, de onde são extraídas as estampas coloridas reproduzidas nesta exposição, Cem Vistas do Monte Fuji, e a coleção de desenhos Manga.
Nesta exposição são exibidos catorze dos quinze álbuns. Segundo se crê, esta edição data do período Meiji (1878- 1912). O nome Katsushika Hokusai - 葛飾北斎 - está impresso na página.