Início / 3 | Mecanização do mundo rural (Casal Saloio de Outeiro de Polima)
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3 | Mecanização do mundo rural (Casal Saloio de Outeiro de Polima)

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Com a invenção da máquina a vapor, a partir de meados do século XIX a atividade agrı́cola tendeu a transformar-se, simplificando algumas das tarefas mais árduas, como a lavra ou a debulha.

Não obstante, o concelho de Cascais apenas despontaria para esta evolução a partir do segundo quartel do século XX, que alterou a feição social da agricultura, substituindo ritmos e até sonoridades, quando o ruı́do dos motores em esforço se impôs às vozes dos trabalhadores.

Os campos deixaram, assim, de ocupar tanto pessoal e o agricultor cedeu o protagonismo à maquinaria especializada, utilizada no amanho da terra, nas colheitas e até no processamento dos produtos obtidos.

 

Pedras de Cascais

Devido ao substrato rochoso do concelho, constituı́do maioritariamente por calcários duros e compactos, as atividades da extração e do trabalho da pedra marcaram a atividade das gentes de Cascais ao longo de gerações.

Em 1873, Pedro Barruncho anotava que estavam em lavra 26 pedreiras que em cinco anos tinham produzido cerca de 7.324 carradas.

Entre as pedras mais afamadas destacavam-se o denominado mármore apinhoado de Cascais, cor de mel e com muitos fragmentos de conchas; o mármore busano; o resistente mármore bastardo, acinzentado, com manchas roxas e brancas; ou o azulino de Cascais, pedra calcária de cor cinzento-azulada com manchas castanhas-claras e pontuações negras dispersas.

 

Pedreiras

A mais antiga pedreira conhecida no concelho remonta ao Neolítico Final e foi encontrada nas escavações arqueológicas do sítio das Branqueiras, em Alvide.

Também para o período romano se identificou uma pedreira junto à necrópole da villa romana de Miroiço, em Manique, de onde foram retirados os esteios de calcário que cobriam as sepulturas aí existentes. Já no final do século XVI se reconhecia a qualidade e beleza da pedra mármore vermelha da Torre da Aguilha, sabendo-se que muitas foram as cargas que saı́ram das pedreiras do concelho para apoiar a reconstrução da cidade de Lisboa depois do terramoto de 1755.

Desta forma, em 1763 estes profissionais representavam aproximadamente 34% da população ativa da freguesia de S. Domingos de Rana.

Em 1900, registar-se-ia que «os homens empregados nas pedreiras recebem o nome de cabouqueiros e têm linguagem, por assim dizer, própria. Denominam pedreiras reais as mais profundas, e portanto, mais trabalhosas para a exploração; chamam tonas aos bancos de rocha e cabos reais aos filões eruptivos que atravessam as pedreiras».

 

Canteiros

O trabalho do canteiro, que José Luı́s Tomé Sabido descreve como «a pessoa que trabalha a pedra em todas as suas vertentes», era multifacetado, executando simples lancis para estradas ou peças de nı́vel artı́stico surpreendente, encontrando-se, por essa razão, muitos testemunhos da sua atividade por todo o concelho, nomeadamente em igrejas, casas, fontes, cruzeiros, estátuas ou jazigos.

Aos canteiros mais habilitados eram confiados os trabalhos delicados, como peitoris, soleiras, colunas, bases, fustes, capitéis, balaústres e cimalhas. Os restantes, incluindo os aprendizes, tratavam dos socos, ombreiras, vergas e pias de despejo.

Por esta altura, «a execução das cantarias era feita manualmente com a ajuda da maceta, escopros de dentes ou lisos, ponteiros, picões, escodas de dentes ou lisas, bojardões e bojardas», sendo as pedreiras das Coveiras – expostas em ambos os lados do caminho que ligava Tires a S. Domingos de Rana – um dos principais bancos de pedra do concelho.

A profissão tendeu, ainda assim, a desaparecer, mercê da mecanização, do paulatino esgotamento das pedreiras e do crescimento das localidades do concelho.

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