O começo...
Começou como União Capricho Carcavelense, em 1901, e teve nos ideais republicanos uma das suas géneses. Tanto assim que, em 1910, aquando da implantação da República, a sua banda participou orgulhosamente no cortejo que levou a notícia até à Vila.
Numa Vila de Reis e Pescadores
Musica, teatro e dança – este sempre foram os três pilares desta sociedade, que marcaram e marcam, ainda hoje, a cultura de Cascais. Não é à toa que, em 2001, no seu centenário, recebeu das mãos do então Presidente da Republica Portuguesa, Jorge Sampaio, o título de Membro Honorário da Ordem de Mérito.
Dos primórdios, em casa alugada por 4 mil reis mensais, faziam parte 2 mesas, oito cadeiras e nove quadros emprestados por António Casimiro de Moura e com oito bancos e cinco estantes cedidas pelo Prior de S. Domingos de Rana. E assim começa – 15 sócios, 50 reis semanais cada.
Durante alguns tempos viveram-se tempo conturbados, com eleições sucessivas dos corpos dirigentes. Só após 1911, com a reeleição de Emídio Francisco de Almeida para Presidente da direção e, apesar de alguma luta interna, se conseguiu uma maior participação nas assembleias e um aumento dos sócios.
E assim a música toma conta das ruas de Carcavelos, principalmente em datas tão importantes para os republicanos com o 5 de outubro e o 1 de maio. O ensino da música e a referência a um grupo Dramático também tomam forma.
Sociedade como união da comunidade
Foi a partir de 1912, que as salas da sociedade se abririam todos os dias para jogos – loto, dominó e cartas, das 21h00 às 01h00, (exceto em dias de ensaio e ensino) sendo desta forma um local de comunhão e partilha entre os Carcavelenses.
Mas com o Estado Novo vieram algumas restrições ou mesmo como referido nos documentos da época "a feroz censura e repressão pós-28 maio, bem expressa na sanha com que fez desaparecer as figuras e bustos pertença da Sociedade."
Os anos agitados do Estado Novo fizeram com que a banda, bem popular na altura, tivesse períodos de interregno grandes, um deles de quase 12 anos. As saídas de 1 de maio, 5 de outubro e 1º dezembro foram acabando com o tempo, mas nunca esquecidas pela população.
Mas a persistência, mesmo em tempos adversos, fez com que culturalmente se desenvolvessem várias atividades – filarmónica, ensino, teatro – e os bailes de Natal, Carnaval, e da Pinha.
Após o 25 de abril de 1974, os relatórios referem a presença, pela primeira vez, de mulheres nos corpos diretivos, facto que, à época era visto como vanguardista.
Até aos dias de hoje "Cultivar e Divulgar a Arte Musical como forma expressão cultural, mantendo para esse fim a banda e incentivando a aprendizagem musical – promover sessões culturais e exercer qualquer atividade nomeadamente desportiva..."
Esta é a génese da Sociedade Recreativa e Musical de Carcavelos que se manteve, contra todas a adversidades, viva, unida e cultural. Prova disso são – Banda Filarmónica, Orquestra Ligeira. Escola de Música, Coral Infantil de Carcavelos, Teatro Infantil de Carcavelos e Grupo de danças.
Entre tantos nomes, não poderíamos deixar de lembrar Maria Odete Morgado, cujo nome ficará para sempre ligado à vida cultural desenvolvida no concelho de Cascais. Fundadora do Grupo Coral Infantil de Carcavelos, presidente da Sociedade Musical e Recreativa de Carcavelos e organizadora do Festival da Canção infantil Clave de Prata, esta professora de Música desenvolveu vários cargos ao serviço da Cultura, nomeadamente como encenadora do Teatro Infantil de Carcavelos. No desempenho da profissão de docente, Maria Odete Morgado sempre defendeu a importância da Educação Musical no crescimento dos jovens, que ensinou ao longo de uma carreira de quase seis décadas. O seu legado permanecerá para sempre ligado a Carcavelos e a Cascais.
