Page 6 - Crónica de el-rei D. Afonso Henriques
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Museu Condes de Castro Guimarães













                De origem etimológica grega (Khronika, ou khronikon, no seu plural), relativa ao
                tempo (chronos) e, na sua versão latina (chronica ou chronicum, no seu plural), o
                termo “crónica” aparece registado nos primeiros dicionários de língua portuguesa
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                como a “história em que se contam os sucessos conforme a ordem dos tempos” (Bluteau,
                1728, Vol. 2, p. 618), ou, com pequenas alterações como a “História escrita conforme
                a ordem dos tempos, referindo a eles, as coisas que se narrão” (Morais e Silva, 1789,
                Vol.1, pág. 497). Já o cronista é descrito como o “Historiador, que escreve cronicas
                (Chronicorom scriptor)” (Bluteau, op. cit), registando Morais e Silva apenas “o escritor
                de crónicas” (Morais e Silva, op. cit).

                Trata-se assim de um relato histórico, onde os factos são apresentados cronologicamente
                de uma forma natural, sem que haja, o mais das vezes, uma reflexão crítica sobre o seu
                aparecimento e desenvolvimento.

                Em termos institucionais, o cargo de cronista-mor do Reino é criado sob a égide da
                dinastia avisina, sendo o primeiro a ocupar o cargo Fernão Lopes (1380?-1460?),
                identificado, em escritura de 1422, como “escrivão dos nossos livros que tem carrego
                das ditas nossas escrituras [...] e de guardar as chaves das ditas escrituras [...]” (ANTT,
                Colecção Especial, Cx. 33, n.º 15).

                Contudo, e na maior parte dos casos, os cronistas desempenhavam ainda o papel de
                Guarda-mor da Torres do Tombo, cargo esse cuja primeira notícia é a da nomeação
                de João Anes, vedor da Fazenda, feita por D. João I em 1387. A descrição das suas
                atribuições encontra-se na carta do mesmo rei dirigida a João Esteves, contador da
                cidade de Lisboa, indicando-lhe “ter encarregado a Gonçalo Esteves, seu contador da
                mesma cidade, pela confiança que dele tinha dever e procurar as escrituras dos Reinos,
                que estão na torre do Castelo da cidade de Lisboa” (Ribeiro, 1819, 51).

                Associava-se assim ao guarda-mor, responsável pela segurança material da memória
                real, aí incluindo a sua organização e disponibilização, a escrita da própria história, para
                memória dos feitos do rei e reino, interligando o papel de guardador de documentos
                com o de fazedor de história.

                Se é certo que se tratava de um relato comprometido porque encomendado, a cronística
                medieval portuguesa insere-se num movimento europeu de criação da memória da
                Corte, e à necessidade de salvaguardar a documentação que lhe dizia respeito.

                Este género literário, indispensável fonte de estudo da história, incorpora códigos de
                conduta e ideais de cavalaria, disseminados através da narrativa literária medieval, de
                onde se destaca a matéria da Bretanha.









                2 O Eluciário das palavras, termos e frases… de Viterbo, publicado por Frei Joaquim de Santa Rosa de Viterno
                em 1798 não regista o termo.
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