Page 4 - Crónica de el-rei D. Afonso Henriques
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Museu Condes de Castro Guimarães
«Aos amadores sinceros das velhas tradições da terra em que nascemos…», assim
começa a Advertência escrita por Manuel de Castro Guimarães e datada de «Cascaes,
Torre de S. Sebastião, 1917», na edição da Crónica del rei D. Afonso Henriques primeiro
rei destes reinos de Portugal por Duarte Galvão, que publicou no ano seguinte, em
comemoração do quarto centenário da morte do cronista.
O códice de pergaminho manuscrito e iluminado do século XVI reúne, sob o título
Crollogno deregido ao Sereníssimo e muyto poderoso Príncipe El Rey Dom Manuell
nosso Señor sobre as vidas e excelentes feitos dos Reis de Portugall seus antecessores
hordenados e escriptos per seu mandado por Duarte Gallvam…, na continuidade da
Crónica de D. Afonso Henriques, as crónicas dos reis da I Dinastia, de D. Sancho I a
D. Afonso IV, escritas por Rui de Pina.
Mais do que qualquer outro dos códices iluminados ou crónicas de aparato que se
conhecem do texto de Duarte Galvão, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, na
Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra e na Biblioteca Pública e Municipal do
Porto, o exemplar existente no Museu Condes de Castro Guimarães notabilizou-se
pela vista da cidade de Lisboa que serve de tema principal ao frontispício da crónica e
constitui uma das suas mais antigas representações panorâmicas, atribuída a António
de Holanda (Ɨ c. 1549). Visa ilustrar o cerco e a tomada de Lisboa aos mouros por
D. Afonso Henriques, em 1147, mas a imagem da cidade é a que corresponde ao seu
aspeto físico no final do reinado de D. Manuel e início do reinado de seu filho,
D. João III, ca. 1515 – 1525, evidenciando a topografia acidentada e a pujante atividade
marítima dos Descobrimentos no rio Tejo.
Assinalando os 100 anos sobre o primeiro estudo e divulgação realizados pelo Conde
de Castro Guimarães, a Câmara Municipal de Cascais promoveu a digitalização
integral do códice, bem como a edição do presente ebook que conta com dois
textos especializados de enquadramento - um de análise diplomática e paleográfica
e outro abordando a vertente do documento enquanto objeto artístico. Assim se
homenageia esta importante figura mecenática que em 1927 legou à população
cascalense a sua casa, com o recheio artístico e bibliográfico e outros bens materiais,
para aí se fundar o primeiro museu-biblioteca do concelho, inaugurado oficialmente
em 12 de Julho de 1931, e se preserva e transmite às gerações vindouras o maior
tesouro do seu legado, tornando-o cada vez mais acessível ao grande público
através da internet e das novas tecnologias.
Carlos Carreiras
Presidente da Câmara Municipal de Cascais
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