Page 16 - Crónica de el-rei D. Afonso Henriques
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Museu Condes de Castro Guimarães


                                                                       Da cronística

                                      e da iluminura manuelina

























                Em 1497, D. Manuel nomeou Rui de Pina (ca. 1440-1522) como cronista-mor do reino,
                tendo-lhe então mandado escrever as crónicas dos reis que o haviam antecedido
                (D. Duarte, D. Afonso V e D. João II). De forma complementar o monarca ordenou a Duarte
                Galvão (ca. 1445-1517), figura eminente na corte que se assumiu como principal ideólogo
                dos seus projetos imperiais, que fizesse as crónicas dos primeiros reis portugueses. Sabe-
                se, contudo, que este apenas concluiu em 1505 a de D. Afonso Henriques, não tendo
                podido acabar as dos restantes reis até D. Afonso IV, as quais tiveram de ser compostas
                por Rui de Pina cerca de 1514.

                A intensa atividade historiográfica ordenada por D. Manuel reflete a consciência que tinha
                da importância da História, não apenas como fator de cultura, mas também como suporte
                ideológico do seu poder. A realização das referidas crónicas resulta, pois, do verdadeiro
                culto que o rei nutria pela memória dos seus antepassados, ficando o modo que encontrou
                de a nobilitar espelhado na forma da sua apresentação. Com efeito ele ordenou que elas
                ficassem registadas da maneira mais nobre e duradoura que conhecia, a qual era a de
                serem escritas em boa caligrafia em folhas de pergaminho e decoradas com iluminuras,
                tal como mandava fazer a toda a documentação que desejava conservar dignamente.
                D. Manuel recorreu assim à atividade das oficinas régias de calígrafos e pintores que
                em Lisboa estavam encarregadas de iluminar folhas e copiar documentos nos volumes
                da Leitura Nova (desde 1504); forais novos (desde 1500); livros de horas e outros com
                funções litúrgicas; livros de Heráldica; cartas de armas; regimentos; cartas de marear, etc.

                Os exemplares das crónicas iluminadas que D. Manuel mandou fazer foram aprontados
                com todo o cuidado a fim de funcionarem como versão oficial da História de Portugal,
                sendo de considerar que o núcleo mais importante de tais obras está na Torre do
                Tombo, em Lisboa . Fora desta instituição há a destacar apenas três códices bem
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                iluminados, sendo todos eles de exemplares da Crónica de D. Afonso Henriques de
                Duarte Galvão. Este facto é do maior significado e enquadra-se na ideologia nacionalista
                de D. Manuel que valorizava com particular destaque a memória do fundador da

                3 Sobre D. Manuel, o seu tempo, iluminuras e crónicas cf. nomeadamente o que escrevemos em: «Poder, história
                e exotismo na iluminura portuguesa quinhentista», Oceanos, 25, Lisboa, Abril de 1996, p. 25-48; «O culto da
                memória: as crónicas portuguesas iluminadas», in Memória dos afectos: homenagem da cultura portuguesa a
                Giuseppe Tavani, Lisboa, Edições Colibri, 2001, p. 93-113; «As iluminuras de 1502 do “livro carmesim” e a iconologia
                manuelina», Cadernos do Arquivo Municipal, 8, Lisboa, 2005 (2006), p. 38-55; Os forais novos do reinado de
                D. Manuel, Lisboa, Banco de Portugal, 2009 e D. Manuel I, Matosinhos, Quidnovi, 2009.
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